O fim da vida: morte e luto

O que é a morte?

A morte é considerada a finalização de um ciclo, o fim de tudo. Mas a discussão sobre o que ela é, e como ela acontece, é  um assunto delicado e muitas vezes até evitado pela maioria das pessoas.
O facto de sabermos que ninguém escapará à morte é o que a torna um assunto tão fascinante e ao mesmo tempo angustiante, pois ela não pode ser evitada. A ciência procura à séculos maneiras de retardá-la e até mesmo suplantá-la, através de seus medicamentos e das suas pesquisas, obtendo êxito em algumas áreas. O facto é que a vida e a morte são assuntos complexos.

A morte, está relacionada com tudo aquilo que nos cerca, fazendo-nos pensar que não somos eternos, que não somos donos de nossa própria vida, que temos que obedecer ao ciclo natural da vida, ou seja, tudo que é vivo um dia morrerá. A morte também nos remete à doença e ao sofrimento, isto é, pensar na morte muitas vezes está associado ao facto de que essa será sofrida, dolorosa, e muitas vezes em decorrência de uma doença grave.

Ao pensar na morte como perda, é importante ressaltar que a morte do outro se configura como a vivência da morte em vida. É a possibilidade de experimentar a morte que não é a própria, mas é vivida como se uma parte de nós morresse, uma parte ligada ao outro pelos vínculos. Portanto, a perda pela morte é a ruptura irreversível de um vínculo, sobretudo quando ela é real, concreta.

Quando confrontados com a perda daqueles que mais amamos, a vida pode deixar de fazer sentido. Podemos sentirmo-nos perdidos. Emocionalmente, nada em nós será mais profundo e doloroso do que o sentimento de perda irremediável. Pensamos que nada nem ninguém pode preencher o sentimento de vazio que os que partem deixam em nós. Pensamos que nada nem ninguém acalmará a angústia e as feridas interiores. É importante perceber a dimensão emocional da perda, pois há lágrimas que tem de ser choradas e há gritos que tem de ser gritados. A nossa condição humana pede-o, a saúde mental exige-o. Quem desconhece o amargo da tristeza não se delicia com o doce da alegria.

Freud, em “Luto e Melancolia” (1917), define o luto como uma reacção à perda de um ente querido, à perda de alguma abstracção que ocupou o lugar desse ente, desânimo profundo, falta de interesse pelo mundo externo e perda da capacidade de adoptar um novo objecto de amor. Ou seja, o objecto amado já não existe, o que exige que a libido seja desviada para outro objecto, o que causa grande desagrado. Quando finalmente o trabalho do luto termina, o ego está novamente livre e desinibido.

O luto é uma experiência pela qual todos os indivíduos passam, pelo menos uma vez, ao longo da vida. Sendo relativamente comum, é sempre um processo difícil e doloroso, já que nem sempre estamos preparados para lidar com a ajuda de pessoas que nos são próximas.

De um modo geral, o luto é uma reacção vital, inerente à condição humana e representa a resposta à perda de algo ou de alguém. Este processo inclui um conjunto de sentimentos que levam mais ou menos tempo a serem resolvidos dependendo da pessoa ou da situação em particular e, que não devem ser apressados nem embotados com o uso de medicação.

O processo de luto não é algo linear, muito pelo contrário, envolve uma série de etapas ou componentes sequenciais, que lhe estão inerentes.

As fases que compõem o processo de luto são:

Choque: reacção inicial à perda do objecto (pessoa ou coisa significativa), na qual o sujeito fica “atordoado” com o acontecido.

Negação: mecanismo de defesa que a pessoa utiliza de forma inconsciente e que a leva a não acreditar ou a não querer acreditar no que aconteceu. Geralmente a pessoa usa expressões do tipo “Eu não acredito que isto me tenha acontecido”, “não pode ser possível”.

Depressão: etapa em que a pessoa já teve alguma tomada de consciência do que aconteceu e por isso, sente-se frequentemente triste, chora intensamente, não tem prazer nas actividades, pensa recorrentemente acerca da morte e no ente falecido, isola-se. Estes sintomas se forem muito intensos e persistirem no tempo, podem ser sinal de uma perturbação de humor.

Culpa: é um sentimento muito comum. As pessoas começam a pensar em tudo o que poderiam ter dito ou feito para impedir essa morte. Por outro lado, a culpa também como surgir em consequência do alívio pela morte de alguém que nos era muito querido mas que estava a sofrer.

Ansiedade: está associada a um período de agitação e ânsia pelo que foi perdido. O sujeito muitas vezes deseja encontrar a pessoa falecida, mesmo sabendo que é impossível e pelo que, não consegue relaxar.

Agressividade: em alguns casos, o indivíduo revolta-se contra a perda, isto é, sente-se muito zangado e irritado por estar a viver aquela situação. Este sentimento pode ser virado para si mesmo ou para os outros.

Reintegração: é geralmente a última etapa do processo, na qual a pessoa volta à “vida normal”.

Todas estas fases são sequenciais, mas isto não implica que a sequência seja linear como atrás foi descrita. Este processo irá variar de pessoa para pessoa, de acordo com as características e vicissitudes de cada um de nós. Sendo que, nem todos identificam a passagem pelas sete fases do processo, pelo que alguns apenas expressam algumas daquelas.

Muitas vezes, aquelas etapas de luto ou perda são acompanhadas por condutas de evitamento, manifestadas pela tendência da parte da pessoa em luto para se isolar e evitar as outras pessoas ou situações, facto que se pode prolongar, e no Futuro originar problemas, pois o luto pode passar de um processo normal, resultante de uma perda, para um luto patológico, que já é mais prolongado no tempo e que consequências negativas para o bem-estar da pessoa.