Desenvolvimento cognitivo

Relativamente ao desenvolvimento cognitivo apresentam-se como autores fundamentais Jean Piaget e Lev Vygotsky.

Piaget e o Desenvolvimento Cognitivo:

Piaget defende que o desenvolvimento intelectual resulta da interacção de factores inerentes ao sujeito e ao meio em que está inserido, e implica mecanismos como:

  • Assimilação: o sujeito incorpora os elementos do meio aos esquemas já existentes;
  • Acomodação: as estruturas mentais modificam-se em função de situações novas;
  • Equilibração: mecanismo que regula a acomodação e a assimilação: prepara ou adequa a assimilação à acomodação e vice-versa.

 Este aponta como principais factores de desenvolvimento:

  • Hereditariedade: refere-se à maturação interna do sujeito;
  • Experiência Física: refere-se à acção sobre os objectos;
  • Transmissão social: a educação contribui muito para o desenvolvimento do sujeito, um meio rico em estímulos e informações favorece um desenvolvimento equilibrado;
  • Equilibração: mecanismo regulador da assimilação e da acomodação, possibilitando uma cada vez maior adaptação do sujeito ao meio.

 Para Piaget o desenvolvimento intelectual processa-se em quatro estádios que são estruturas de conjunto que têm a sua unidade funcional, o que vai permitir caracteriza-los. Cada estádio caracteriza-se por:

  • uma estrutura com características próprias;
  • uma ordem de sucessão constante (embora possam existir diferenças cronológicas);
  • uma evolução integrativa, isto é, as novas aquisições são integradas na estrutura anterior, organizando-se agora uma nova estrutura hierarquicamente superior.

 

 

Estádio Sensório – Motor

(até aos 2 anos)

- caracteriza-se por uma inteligência sensorial, porque o bebé capta todas as informações que recebe através dos orgãos dos sentidos, e motora, porque o bebé se exprima através de movimentos

- aparecimento do conceito do objecto permanente: a criança procura um objecto escondido porque tem a noção de que este continua a existir mesmo quando não o vê.

 

 

 

 

Estádio Pré – Operatório

(2-6/7 anos)

- é característico deste estádio a função simbólica que consiste na capacidade de representar mentalmente objectos, ou acontecimentos, que não ocorrem no presente, através de símbolos

- a função simbólica manifesta-se pela linguagem, jogo simbólico, a imagem mental e o desenho.

- aqui a criança ainda não é capaz de fazer operações mentais e o seu pensamento é intuitivo baseado na percepção dos dados sensoriais.

- surge aqui o egocentrismo que se define como o entendimento pessoal de que o mundo foi criado para si, e isso impede o bebé de compreender que, sobre o real, existe outras perspectivas para além da sua.

 

Estádio das Operações Concretas

(6/7-11/12 anos)

- começa a ser ultrapassado o egocentrismo do estádio anterior

- desenvolve o pensamento lógico: desenvolve conceitos e é capaz de realizar operações mentais, mas apenas é capaz de o fazer se estiver perante os objectos e/ou situações

- desenvolve a noção de conservação da matéria, peso, volume, e desenvolve também a capacidade de fazer seriações e classificações

 

 

Estádio das Operações Formais

(11/12-16 anos)

- aparece um novo tipo de pensamento: o pensamento abstracto, lógico e formal, pelo que a criança já é capaz de resolver problemas sem suporte concreto.

- coloca mentalmente as hipóteses deduzindo as consequências – raciocínio hipotético - dedutivo

- surge o egocentrismo intelectual que leva ao adolescente a considerar que através do seu pensamento pode resolver todos os problemas e que as suas ideias e convicções são as melhores

 

Juntamente com Piaget e Lawrence Kohlberg, Lev Vygostky faz parte de uma galeria de gurus educacionais com enorme aceitação nas escolas de educação e a sua obra influenciou grandemente as políticas e orientações educativas, na Europa Ocidental, nas últimas três décadas do século passado.

Embora, a teoria social da aprendizagem de Vygotsky não introduza nada de radicalmente diferente em relação à teoria construtivista de Piaget,.Na verdade, tanto Vygotsky como Piaget partilham a visão construtivista, assente na ideia de que a única aprendizagem significativa é a que ocorre através da interacção entre o sujeito, o objecto e outros sujeitos (colegas ou professores). As outras formas de aprendizagem, como sejam a imitação, a observação, a demonstração, a exemplificação e a prática dirigida são colocadas em lugar secundário. O que verdadeiramente distingue Vygotsky de Piaget é a descrença do primeiro em relação a uma hierarquia de estádios do desenvolvimento cognitivo tão estanque e determinista como a que Piaget desenvolveu.

O construtivismo social de Vygotsky

De acordo com Vygotsky, todas as actividades cognitivas básicas do indivíduo ocorrem de acordo com a sua história social e acabam por constituir o produto do desenvolvimento socio-histórico. Portanto, as habilidades cognitivas e as formas de estruturar o pensamento do indivíduo não são determinadas por factores congénitos. São, isto sim, resultado das actividades praticadas de acordo com os hábitos sociais da cultura em que o indivíduo se desenvolve. Consequentemente, a história da sociedade na qual a criança se desenvolve e a história pessoal desta criança são factores cruciais que vão determinar a sua forma de pensar. Neste processo de desenvolvimento cognitivo, a linguagem tem papel crucial na determinação de como a criança vai aprender a pensar, uma vez que, formas avançadas de pensamento são transmitidas à criança através de palavras.

Pensamento, linguagem e desenvolvimento intelectual

Para Vygotsky, um claro entendimento das relações entre pensamento e língua é necessário para que se entenda o processo de desenvolvimento intelectual. Linguagem não é apenas uma expressão do conhecimento adquirido pela criança. Existe uma inter-relação fundamental entre pensamento e linguagem. Desta forma a linguagem tem um papel essencial na formação do pensamento e do carácter do indivíduo.

Zona de desenvolvimento próximo

Um dos princípios básicos da teoria de Vygotsky é o conceito de "zona de desenvolvimento próximo". Zona de desenvolvimento próximo representa a diferença entre a capacidade da criança de resolver problemas por si própria e a capacidade de resolvê-los com a ajuda de alguém. Em outras palavras, teríamos uma "zona de desenvolvimento auto-suficiente" que abrange todas as funções e actividades que a criança consegue desempenhar por si própria, sem ajuda externa. Zona de desenvolvimento próximo, por sua vez, abrange todas as funções e actividades que a criança consegue desempenhar apenas se houver ajuda de alguém. Esta pessoa que intervém de forma não-intrusiva para assistir e orientar a criança pode ser tanto um adulto, assim como um colega que já tenha desenvolvido a habilidade requerida.

A idéia de zona de desenvolvimento próximo é de grande relevância em todas as áreas educacionais. Uma implicação importante é a de que a aprendizagem humana é de natureza social, e é parte de um processo em que a criança desenvolve o seu intelecto dentro da intelectualidade daqueles que a cercam (Vygotsky, 1978). De acordo com Vygotsky, uma característica essencial da aprendizagem é que ele desperta vários processos de desenvolvimento internamente, os quais funcionam apenas quando a criança interage no seu ambiente de convívio.