Métodos e técnicas em Psicologia

Nas investigações em psicologia são usados diversos métodos e técnicas. Os métodos correspondem ao conjunto de procedimentos utilizados na investigação, e as técnicas aos processos práticos usados em cada método.

Algumas correntes da psicologia, como o associacionismo, o behaviorismo ou a psicanálise estão ligadas a métodos específicos. Este principio não pode hoje ser generalizado, dado a diversidade de metodologias que os psicólogos podem recorrer nos seus trabalhos. A escolha de um método depende dos objectivos que se tenham em vista atingir, os recursos e o tempo disponível. 

 

Método Introspectivo

Método aplicado por Wundt, como forma de estudar os estados de consciência do indivíduo, submetidos a certas experiências.

- A observação é feita pelo próprio indivíduo, que revive a experiência interior retrospectivamente.

- Não existe separação entre o objecto (o que está a ser observado) e o observador (aquele que observa). Esta situação coloca o problema  da subjectividade desta metodologia de pesquisa.

Algumas das limitações do método introspectivo: não pode ser aplicado a crianças, doentes mentais, a pessoas com dificuldades de verbalização, assim como aos animais.

 

Método Experimental

Os psicólogos que aplicaram e desenvolveram este método, como Watson, centram-se quase que exclusivamente no estudo do comportamento humano, em ambientes laboratoriais, controláveis e modificáveis, seguindo os mesmos princípios metodológicos usados pelos físicos e químicos no estudo da natureza.

Pretendem estabelecer  medidas cientificas sobre o comportamento dos seres vivos, homens ou animais, determinando as suas leis gerais sempre que ocorrem condições idênticas. Estas leis permitiriam não apenas explicar o comportamento, mas também prevê-lo e controlá-lo.

- A observação centra-se em dados exteriores ao observador, separando desta forma o objecto do observador 

- Nas observações são seleccionados preferencialmente aspectos susceptíveis de serem traduzidos em termos quantitativos, permitindo desta forma um elevado grau de objectividade nas descrições. 

Modelo básico de investigação experimental

Estudo das variáveis

Os procedimentos seguidos no estudo das relações de causa/efeito na psicologia experimental são concebidas como uma relação entre variáveis, numa dada situação controlada. 

Entende-se  por variável uma qualquer propriedade ou característica de um dado sujeito que pode ser quantificado ou precisado com rigor. Exemplos de variáveis: idade, altura, peso, sexo, etc.

Denomina-se por variável independente, aquela cuja modificação se supõe poder produzir uma modificação num dado comportamento observável (variável dependente ou variável de resposta).  Exemplo: Determinar o efeito do álcool sobre o reflexos motores.  

O objectivo do investigador é comprovar se os efeitos provocados pela variável independente sobre a variável dependente são aqueles que tinha suposto como hipótese. 

Para além destas, o experimentador deve ainda ter em conta a existência de outras variáveis  - variáveis externas -, que podem influenciar os resultados obtidos, embora nem sempre sejam facilmente identificadas.         

Estudo de Grupos

Na maioria dos casos, os psicólogos experimentais não têm a possibilidade de estudar a totalidade dos indivíduos. Neste caso optam por estudar um grupo representativo (amostra).Os procedimentos anteriores são agora aplicados a grupos de indivíduos. 

A primeira tarefa consiste em escolher um conjunto de indivíduos que seja representativa da população a que se pretende generalizar as conclusões (universo). Esta escolha deve ser feita de forma aleatória, de modo a que todos os indivíduos tenham as mesmas hipóteses de serem escolhidos.

A segunda tarefa consiste em estabelecer dois grupos:

Grupo Experimental - conjunto de indivíduos onde será alterada (manipulada) uma dada variável - variáveis independentes.

Grupo de Controlo - conjunto de indivíduos que experimenta as mesmas condições do grupo experimental, excepto na variação da variável independente.

A comparação entre os dois grupos permite confirmar ou não a causa de determinados efeitos sempre que se altera uma das variáveis (validação da hipótese). Esta validação dos resultados está dependente do controlo que tenha sido realizado de todas as variáveis. 

Etapas do Método Experimental 

O método experimental pode ser dividido nas seguintes etapas:

a)  Identificação e análise do problema ou situação

b) Formulação de uma hipótese explicativa

c) Experimentação -manipulação e controlo das variáveis no grupo em observação (experimental)

d) Conclusão - confirmação da hipótese

As limitações do método experimental estão ligadas à complexidade do objecto de estudo - o comportamento humano. Este método implica frequentemente uma visão reducionista do  mesmo. Por outro lado, as condições laboratoriais em que as experiências são feitas tendem a produzir respostas falseadas. Neste sentido, as generalizações das conclusões obtidas com este método são alvo de grandes críticas.

 

Observação Naturalista e Observação Participante

Com este método, os investigadores procuraram superar as limitações do método experimental, através da observação sistemática fora do ambiente laboratorial. 

Estudo do indivíduo faz-se no seu meio natural. O observador está no campo e observa o processo tal como decorre na vida do indivíduo. Este tipo de observação denomina-se de naturalista.

Quando o observador participa na vida dos indivíduos em observação, o método denomina-se Observação Participante.

Embora as etapas destes métodos sejam similares às do método experimental, a verdade é que os dados recolhidos são muito diferentes: em vez de dados quantitativos ou mensuráveis, o que obtemos são dados de natureza descritiva (qualitativos).

Uma das principais limitações destes métodos consiste na dificuldade em generalizar as suas conclusões. Este facto deve-se à própria natureza da investigação que é feita e incide em profundidade sobre casos singulares.

 

Método Clínico - Estudo de Caso

O objectivo da psicologia clínica é estudar o indivíduo em profundidade, na sua singularidade e no caso concreto em que o mesmo se apresenta, ultrapassando as aproximações parciais da psicologia experimental. 

Este método procura compreender a pessoa nas suas relações com o mundo: com os outros, consigo mesma, na imagem que constrói da sua vida, e com os valores em que assenta a sua conduta.

- Estudo do indivíduo em várias dimensões ao longo do seu desenvolvimento

- Recurso a uma  multiplicidade de técnicas: entrevistas (recolha de dados, análise de atitudes, etc); testes psicológicos (testes de personalidade, aptidão, etc); anamnese (reconstituição da vida do paciente pelo próprio, etc); observação clínica.  

 

Método Psicanalítico

A psicanálise, enquanto terapia , é um método de exploração do inconsciente. 

A hipnose foi a primeira técnica que J. Breuer e depois Freud utilizou. Este último desenvolveu e aplicou outras técnicas para atingir os mesmos objectivos:    

- Associações Livres: Consiste em pedir aos pacientes para dizer o que lhes ocorre, sem qualquer constrangimento. O objectivo é que o paciente se auto-analise, descobrindo as questões que lhe provocam alguma resistência. O psicanalista toma nota de todas as perturbações em função do encadeamento das associações realizadas pelo paciente, tentando deste modo identificar os fenómenos inconscientes que estão na base das neuroses.

- Interpretação de Sonhos: Os sonhos são  uma das manifestações mais ricas do inconsciente, ainda que estes se apresentem numa forma simbólica. A sua interpretação permite a descoberta das causas profundas das situações traumáticas. 

- Actos Falhados: Nas mais diversas situações, todos nós somos afectados por certas perturbações mentais, das quais não nos recordamos, por exemplo, nome de pessoas nossas conhecidas, troca de palavras, etc.  A análise destes actos falhados é outra das técnicas utilizadas na psicanálise.

- Processo da Transferência: Durante o tratamento o paciente estabelece com o psicanalista relações que lhe permitem reviver situações traumáticas. Nestas, os sentimentos de amor ou de ódio que em tempos foram experimentados, são transferidos para o psicanalista. A interpretação destas transferências torna-se assim num dos elementos fundamentais que pode levar à descoberta das situações traumatizantes.

Estas e outras técnicas utilizadas na Psicanálise devem ser vistas como complementares, podendo num dado momento umas serem mais usadas que outras.

A psicanálise apesar do lugar incontornável na psicologia, continua a ser alvo de inúmeras criticas, nomeadamente sobre a precariedade do seu método científico.

 

Testes

Prova destinada a determinar e a avaliar o nível atingido por um indivíduo face a uma situação padronizada. Os testes fazem partem de um conjunto de processos de medida utilizados na psicologia. Características a que devem obedecer os testes: padronização, fidelidade, validade e sensibilidade.   

Tipos de testes: T. Inteligência; T. Aptidão; T. de Personalidade; T. de Memória; etc.

 

Testes de Inteligência: Os primeiros testes de inteligência foram criados Alfred Binet, no início do século XX, e destinavam-se a identificar as crianças com defeitos intelectuais e que necessitassem de acompanhamento escolar especial. Binet começou por definir a inteligência (capacidade de emitir juízos). Depois, para cada uma destas capacidades inventou um modo de testar o nível atingido por cada indivíduo. Procurou então determinar um nível médio de capacidade mental atingido pelos indivíduos em função da sua idade. A partir daqui estabeleceu o padrão mental para cada idade. Estes valores permitem escalonar os indivíduos em função dos resultados que obtêm nos testes para a sua idade.

Em síntese no decurso do seu desenvolvimento uma pessoa atinge um grau de aptidão que corresponde a uma idade mental (estatisticamente determinada), que não corresponde necessariamente à idade cronológica dessa pessoa. A medida deste nível de desenvolvimento, obtido pelo coeficiente da relação entre a idade mental e a idade real, é o chamado Q.I.    

 

 

Testes de Personalidade: O mais famoso teste de personalidade foi criado por Rorschach. Consiste em 10 quadros, cada um dos quais com uma mancha de tinta simétrica. Alguns quadros são a preto e branco, outros a cor. O indivíduo é convidado a dizer o que "vê" na mancha, assim como todos os seus detalhes. Trata-se de um teste projectivo da personalidade. Na interpretação pessoal destes estímulos ambíguos o indivíduo revela o seu modo particular de estruturar o mundo,  a sua personalidade.   

Os testes de personalidade procuram revelar as estruturas psíquicas de uma pessoa, através da interpretação que essa pessoa dá, por exemplo, a uma imagem  ambígua ou  através da criação de desenhos. Deste modo o sujeito projecta a sua própria organização interna na interpretação que faz ou no desenho que lhe é solicitado.  

 

Testes de Aptidão: Dizem respeito a capacidades consideradas essenciais para o desempenho de certas actividades, tais como a acuidade visual, a percepção das cores e das formas, memória espontânea de palavras e algarismos, velocidade de aprendizagem de uma instrução, etc.

 

Inquéritos e Entrevistas

Inquéritos por questionário: Este método é aplicado ao estudo de grandes grupos de indivíduos (método extensivo). É constituído por um conjunto de perguntas simples e objectivas, na maioria das vezes com apenas duas alternativas: sim ou não. Avalia os aspectos relevantes de um número restrito de questões.  

 

Entrevistas: Esta técnica permite obter maior informação do que os questionários, mas também é mais demorada. A escolha dos diferentes tipos de entrevistas é feita em função dos objectivos, mas também do número de pessoas a estudar.   

 

Entrevista directiva: O entrevistador conduz a entrevista evitando os desvios do assunto em análise.

 

Entrevista não directiva: O entrevistador coloca um conjunto de questões de forma informal, procurando que os entrevistados os desenvolvam de forma pessoal.

 

Entrevista semi-directiva: Situação mista entre entrevista directiva e não directiva.