O objecto em Psicologia
O objecto da psicologia é o estudo cientifico do comportamento e dos processos mentais e da relação entre eles. Assim, a psicologia vai estudar o comportamento, isto é, todos os actos e reacções observáveis, tudo o que fazemos como andar, sorrir, correr, etc. Estuda também sentimentos, emoções, atitudes, pensamentos, representações mentais, fantasias, percepções, isto é, os processos mentais que não podem ser observados directamente.
Cabe á psicologia estudar questões ligadas à personalidade, à aprendizagem, à memória, à inteligência, ao funcionamento do sistema nervoso, e também à comunicação interpessoal, ao desenvolvimento, ao comportamento em grupo, aos processos psicoterapêuticos, ao sono e ao sonho, ao prazer e à dor.
Tal como as outras ciências, a psicologia irá procurar descrever e explicar, prever e controlar os comportamentos, os processos mentais e o mundo racional.
Integrada durante séculos na filosofia, a psicologia só se torna ciência independente nos finais do século XIX, quando Wundt funda o primeiro Laboratório de Psicologia Experimental, em 1879, em Leipzig, na Alemanha. Será a partir deste acontecimento que se vão desenvolver, de forma sistemática, as investigações em psicologia.
Considerada por muitos como a ciência do século XX, a psicologia toca em todas as esferas da actividade humana: na família, na escola, no trabalho, no lazer. Daí que se acentue nesta ciência o processo comum a outras áreas do saber - a psicologia é uma ciência que se diferencia e se sistematiza em múltiplas escolas e teorias.
A curta historia da psicologia cientifica é atravessada por sistemas, paradigmas, correntes teóricas que apresentam diversas concepções que se reflectem na definição dos objectivos, métodos e práticas científicos deferentes.
Alguns dos autores mais conceituados da psicologia, que para alem de desenvolver teorias também marcaram de forma decisiva o desenvolvimento da psicologia.
Principais correntes em psicologia
Autor |
Corrente |
Wilhelm Wundt |
Associacionismo/Estruturalismo |
Ivan Pavlov |
Reflexologia |
John Watson |
Behaviorismo/Comportamentalismo |
Wolfgang Kohler |
Gestaltismo/Teoria da Forma |
Sigmund Freud |
Psicanálise |
Jean Piaget |
Construtivismo |
Wundt e o Associacionismo
Wundt vai procurar decompor a mente, a consciência, nos seus elementos simples, que são as sensações. Ele e os seus seguidores defendem uma concepção atomista, segundo a qual as operações, os processos mentais, não são mais de que a organização de sensações elementares que se associam, procurando relacioná-las com a estrutura do sistema nervoso.
Para Wundt, o objecto da psicologia é o estudo da mente, dos processos mentais, da experiencia consciente do Homem. É no seu laboratório na Universidade de Leipzig, que vai procurar conhecer os elementos constitutivos da consciência, a forma como se relacionam e associam.
Wundt utiliza como método a introspecção controlada. Os observadores treinados deveriam, no laboratório, descrever as suas experiências, resultantes de uma situação experimental definida. Através da introspecção, os sujeitos experimentais descreviam o que sentiam, os seus estados subjectivos, resultantes de estímulos visuais, auditivos e tácteis. Para este autor a psicologia teria como objecto a experiencia humana, estudada na perspectiva das experiencias pessoais através da auto-observação, visando conhecer os seus elementos constituintes: as sensações.
Durante muito tempo, o associacionismo foi a escola dominante nos EUA e Alemanha.
Pavlov e a Reflexologia
Pavlov, ao estudar a secreção gástrica , descobre que, para além dos reflexos inatos, como salivar ao ver um alimento, reagir á luz e ao som, etc., se podem desenvolver nos seres humanos e nos animais reflexos aprendidos. No decorrer de uma experiencia sobre os reflexos digestivos, verifica que o cão salivava não só quando via o alimento - reflexo inato -, mas também perante outros sinais com ele associados, como, por exemplo, os passos do tratador, o som de uma campainha. Designou este comportamento por reflexo condicionado (substituição do estimulo natural pelo artificial).
Para Pavlov, aquilo que se denominava de espírito mais não era do que a actividade do cérebro. Defende que é no córtex cerebral que se formam, modificam e desaparecem os reflexos condicionados.
Segundo este autor, a psicologia deveria tomar a designação de reflexologia, circunscrever-se-ia ao estudo dos reflexos. Os reflexos - inatos e condicionados - seriam o fundamento das respostas dos indivíduos aos estímulos provenientes do meio.
Watson e o Behaviorismo
É considerado o pai da psicologia cientifica ao demarcar-se de forma radical de toda a psicologia tradicional, tinha uma visão da psicologia oposta à de Wundt.
Watson não nega a existência da consciência, nem a possibilidade de o individuo se auto-observar. Defende, contudo, que a analise dos estados de espírito, bem como a procura das suas causas, só pode interessar ao sujeito no âmbito da sua vida pessoal.
Para o autor, só se pode estudar directamente o comportamento observável, isto é, resposta (R) de um individuo a um dado estimulo (S) do ambiente.
Tal como em qualquer outra ciência, cabe ao psicólogo decompor o seu objecto - o comportamento (Behavior) - nos seus elementos e explica-lo de forma objectiva. Para atingir esta finalidade, deve recorrer ao método experimental.
Para Watson, a psicologia deveria estudar o comportamento do ser humano desde o nascimento até à morte.
O estudo do comportamento consiste em estabelecer as relações entre os estímulos e as respostas:
Para os comportamentalistas a resposta é tudo o que o animal ou ser humano faz. Segundo os mesmos, o comportamento, é um conjunto de respostas objectivamente observáveis, é determinado por um conjunto complexo de estímulos provenientes do meio físico ou social em que o organismo se insere:
O comportamento, a resposta (R), é função (f), isto é, depende da situação (S)
Kohler e o Gestaltismmo
Kohler, Kofka (1886-1941) e Wertheimer (1838-1916) vão desenvolver todo um conjunto de investigações baseadas na noção de Gestalt, termo geralmente traduzido por forma, mas também por organização, estrutura, configuração.
O gestaltismo, ou psicologia da forma, nasceu por oposição à psicologia do seculo XIX, que tinha por objecto os estados de consciência. Kohler e os seus colaboradores vão criticar, concretamente, Wundt que, tomando o modelo das outras ciências, procurava decompor os processos metais mos seus elementos mais simples. Se a fisiologia analisava os órgãos, decompondo-os em tecidos e células, a psicologia deveria decompor os processos conscientes nos seus elementos constitutivos e enunciar as leis que regem as suas combinações e relações. Os elementos mais simples seriam sensações que, associadas, somadas, constituiriam a percepção.
Enquanto os associacionistas partem das sensações elementares para construir as percepções, os gestaltistas partem das estruturas, das formas: nós percepcionamos configurações, isto é, conjuntos organizados em totalidades. A teoria da forma considera a percepção como um todo.
Para os gestaltistas os todo é percebido antes das partes que o constituem. A forma corresponde à maneira como as partes estão dispostas no todo.
É no contexto da teoria da forma que se podem explicar algumas ilusões óptico-geométricas.
O todo não é a soma das partes, na realidade estas organizam-se segundo determinadas leis. Quando olhamos para o seu estrelado e agrupamos as estrelas em constelações de maneira a constituir-mos uma forma, segundo os gestaltistas trata-se da lei da proximidade - perante elementos dispersos, temos tendência a agrupar aqueles que se encontram mais próximos, para constituir uma forma; no caso as constelações.
Freud e a Psicanálise
Foi na reflexão sobre os dados que recolheu junto dos seus pacientes, das observações que fez sobre si próprio, que Freud foi procurar o significado mais profundo das perturbações psicológicas. Até então, a concepção dominante de Homem definia-o como ser racional, que controlava os seus impulsos através da vontade. O consciente, constituído pelas representações presentes na nossa consciência e conhecido pela introspecção, constituía o essencial da vida mental do ser humano. A grande revolução introduzida por Freud constitui na afirmação da existência do inconsciente - zona do psiquismo constituída por pulsões, tendências e desejos fundamentalmente de carácter afectivo-sexual, a qual não é passível de conhecimento directo. À consciência é atribuído um papel modesto - os processos psicológicos mais determinantes ocorrem no inconsciente.
Freud compara o psiquismo humano a um iceberg: a sua parte visível é muito pequena e corresponde ao consciente, sendo constituída por imagens, lembranças, ideias que se podem evocar e conhecer. Contudo a parte submersa, que não se vê, do iceberg é a maior e corresponde ao inconsciente, cabendo-lhe um papel determinante no comportamento.
O pré-consciente ou subconsciente faz a ligação entre o consciente e o inconsciente e corresponde, na imagem do iceberg, a uma zona flutuante de passagem entre a parte visível e a invisível. Segundo Freud o material inconsciente tende a tornar-se consciente. Contudo há todo um conjunto de forças que se opõem a esta passagem.
Recalcamento: é o processo de censura que bloqueia a tomada de consciência do material inconsciente. Constitui um dos mecanismo de defesa inerente ao equilíbrio do individuo, sendo por isso um processo normal. Todavia a partir de determinados limites, é responsável por comportamentos neuróticos.
Posteriormente, Freud apresentou uma segunda teoria sobre a estruturação do aparelho psíquico. Segundo esta teoria, o psiquismo organizava-se através das instancias, id, ego e superego:
ID: Instância constituída por pulsões inatas e por conteúdos, como os desejos, que são posteriormente recalcados. As pulsões procuram o prazer e a satisfação imediata. O id não é regido por preocupações lógicas, temporais ou espaciais. É amoral. Impulsiona e pressiona o ego e a sua actividade é inconsciente.
EGO: Instância que se constitui diferenciando-se do id no primeiro ano de vida. A sua energia vem-lhe das pulsões do id. Tem preocupações lógicas, de espaço e de tempo, assim como de coerência entre a força do id e os constrangimentos da realidade. Tenta ser moral. Opõem-se a certos desejos do id, a sua actividade é sobretudo consciente, embora uma parte seja inconsciente, como os mecanismos de defesa do ego.
SUPEREGO: Instância formada a partir de uma parte do ego, após o complexo de Édipo. Constituído pela interiorização das imagens idealizadas dos pais e das regras sociais. Base da consciência moral. É hipermoral. Age sobre o ego, filtra os conflitos id/ego, decide sobre o destino das pulsões e a sua actividade é predominantemente inconsciente.
Sexualidade: Devido ao seu trabalho com os seus pacientes, Freud conclui que muitos dos sintomas neuróticos estavam relacionados com a sexualidade, objecto de muitas repressões e obstáculos. A sua origem estaria ligada a experiências traumáticas ocorridas na infância. Também concluiu que existe uma sexualidade infantil. para ele a sexualidade não se iniciaria com o funcionamento das glândulas sexuais na puberdade, mas exprimir-se-ia desde o nascimento.
Freud considerava ainda que o comportamento sexual adulto estava relacionado com as vivências infantis. A sexualidade era toda a actividade pulsional - a libido - que tende a uma satisfação.
Piaget e o construtivismo
Foi através da observação dos seus filhos e de outras crianças que Piaget procurou descobrir como é que o conhecimento se organiza e estrutura. É precisamente na área do comportamento intelectual e cognitivo da criança e do adolescente que este investigador vai incidir os seus estudos.
As suas pesquisas levam-no a concluir que o conhecimento é um processo interactivo que envolve o sujeito e o meio e que decorre em etapas sequenciais que Piaget designa por estádios de desenvolvimento. Através da observação e da experimentação vais demonstrar que há uma interacção entre ambos na construção do conhecimento. Para o construtivismo a vida psíquica desenvolve-se através da troca entre o sujeito e o meio; o conhecimento advém das interacções sujeito/objecto, daí que também se designe por interaccionismo.
Piaget defende uma perspectiva psicogenética do conhecimento, atribuindo ao individuo um papel activo na construção do conhecimento. Assim, na polémica que opõem o inatismo ao empirismo, ele propõem uma dialéctica interactiva:
estruturas mentais «-» experiências
Segundo Piaget, o desenvolvimento intelectual faz-se desde as reacções reflexas inatas até à idade adulta. Este processo desenvolve-se ao longo de quatro estádios. A sua concepção parte da tese de que o conhecimento não depende nem só do sujeito nem só do objecto. As estruturas da inteligência não são apenas inatas, mas produto de uma construção continua do sujeito. As estruturas intelectuais constroem-se de modo progressivo num processo de troca entre o sujeito e o meio.
Piaget critica os behavioristas, pois para ele existe uma interacção mais dinâmica do comportamento. O comportamento é a manifestação de uma personalidade (P) numa dada situação (S). O esquema explicativo que propõem é mais adequado aos comportamentos humanos, dado que tem em conta quer as determinantes do meio quer a personalidade do sujeito.
R = f (S«-»P)